sábado, 15 de março de 2008

Richard Aronowitz

Anatomia de um mentiroso



Deslizar debaixo deste céu infinito,
cavalgar a rede das minhas artérias,
percorrer os caminhos do meu pecado.
Poderia contar-te histórias sobre

a atracção, tubos capilares e por aí fora,
tecer grandes narrativas a partir dos ramos dos meus brônquios,
guiar-te pelos quatro cantos dos meus olhos.
Poderia conceber mil papeis diferentes,

enganar-te com a contagem das minhas borbulhas
só para confirmar que de facto ainda estou vivo.
Talvez componha algo simples para ti,
tão fácil como admitir uma mentira.

Agora, retrocedendo lentamente a partir de cem,
abre-me como se fosse uma rosa. Rejeita
o meu coração e deixa os meus pulmões inchados,
eles enganam-te a toda a hora. Não aceites

que a minha língua ou a garganta te desviem.
Terás que me cortar em carne viva,
até às pontas dos dedos por um verso que seja verdadeiro.
O resto é apenas entretenimento, um logro feito carne.



(versão minha; in Anvil new poets, Anvil, London, 2001, p. 18)

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