O último pombo,
aquele que continua quando o resto do bando
já anda espalhado pelos telhados,
oculto entre muros,
o solitário em voo picado sobre as praças,
cego pelo sol,
talvez simplesmente mais silencioso do que os outros, indiferente
a esse estúpido cacarejar horizontal,
- enquanto desajeitadamente se perde,
grão a grão, o alimento oferecido -,
aquele que se atira para o vazio
de uma aventura imaginária, uma ameaça,
o medo de um assobio,
e extrai disso o voo e converte o perigo
num jogo de descidas e subidas bruscas,
a fuga para uma insensata corrida com a sombra
rápida da gaivota,
uma sombra que verdadeiramente voa e desaparece,
o pássaro que procura por todo o lado o vento das ruas
e das chaminés, que mergulha no trânsito e deixa
um monte repugnante de penas cinzentas
mesmo ao pé da tampa do esgoto,
não o olhes.
(Versão minha a partir da tradução inglesa de Chad Davidson reproduzida em New european poets, organização e introdução de Wayne Miller e Kevin Prufer, Graywolf Press, Saint Paul, Minnesota, 2008, p. 52).
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