Vivi toda a minha vida dentro de um coco.
Era escuro e apertado,
especialmente de manhã quando precisava de me barbear.
Mas o que me custava mais era não ter maneira
de entrar em contacto com o mundo exterior.
Se não se desse o caso de alguém descobrir o coco,
se ninguém o partisse, então eu estaria condenado
a viver toda a minha vida dentro dele, e talvez até de morrer dentro dele.
Morri dentro do coco.
Alguns anos depois encontraram-no,
partiram-no e descobriram-me encolhido e enrugado lá dentro.
"Que desastre!"
"Se o tivéssemos descoberto só um pouco mais cedo..."
"Talvez assim o pudéssemos ter salvado."
"Talvez haja por aí mais alguns presos como ele,"
disseram, e começaram a partir em bocados cada coco
que apanhavam.
Inútil! Sem sentido! Uma perda de tempo!
Uma pessoa que escolhe viver num coco!
Uma pessoa como essa é um caso num milhão!
Mas eu tenho um cunhado que
vive numa
bolota.
(Versão minha a partir da tradução inglesa de May Swenson reproduzida em This same sky, organização de Naomi Shihab Nye, Aladdin Paperbacks, Nova Iorque, 1996, p. 152).
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