quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Günter Eich

Inventário



Isto é o meu gorro,
isto é o meu casaco,
eis o meu estojo de barbear
numa bolsa de linho.

Uma caneca de estanho:
o meu prato, o meu copo,
no metal
tracei o meu nome.

Tracei-o com este
precioso prego
que escondo
dos olhos gananciosos.

Na minha mochila há
um par de meias de lã
e outras coisas que
não revelo a ninguém,

isto serve-me de almofada
à noite sob a cabeça.
O cartão aqui está
entre mim e a terra.

O lápis de carvão é
o que mais amo:
de dia escreve por mim os versos
que pensei durante a noite.

Isto é o meu bloco de notas,
isto é a minha tela,
isto é a minha toalha,
isto é o meu fio.



(versão minha a partir da tradução inglesa de Charlotte Melin, reproduzida em The Faber Book of 20th-Century German Poems, organização e introdução de Michael Hofmann, Faber and Faber, London, 2005, p. 88).

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