sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Harold Pinter

Células cancerígenas


"Células cancerígenas são aquelas que se esqueceram de como morrer", enfermeira do Hospital Royal Marsden



Esqueceram-se de como morrer
E assim alastram sua vida assassina.

Eu e o meu tumor amavelmente lutamos.
Esperemos evitar uma morte dupla.

Preciso de ver morto o meu tumor
Um tumor que se esquece de morrer
Planeando ao invés o meu estertor.

Mas eu lembro-me de como morrer
Apesar de mortas minhas testemunhas.
Mas eu lembro-me do que disseram
De tumores capazes de as tornar
Tão cegas e tontas quanto tinham sido
Antes do nascer dessa doença
Que trouxe o tumor até à cena.

As negras células hão-de secar e morrer
Ou cantar alegremente e seguir o seu mister.
Noite e dia tão suave é o seu crescer,
Nunca se sabe, não o vão elas dizer.



(tradução inédita, datada de 8 de Maio de 2002, de Ricardo Castro Ferreira e Gil Santos Júnior, que assim colaboram com este blogue de poesia passada para português).

2 comentários:

mfc disse...

Elas cruzar-se-ão connosco... numa esquina perto de nós!

Lp disse...

Demasiadamente perto de nós. Falar delas serve para as afastar ou para as receber melhor?