segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Bertolt Brecht

Fala a operários-actores dinamarqueses sobre a arte da observação
(3 excertos)


(...)

Não importa
A forma como olhas.
Mas aquilo que viste
E aquilo que revelas, isso importa.
Vale a pena saberes aquilo que sabes.
Observar-te-ão
Para ver quão bem observaste.
Mas aquele que apenas se observa a si mesmo
Nada ganha do conhecimento dos homens.
Demasiadamente de si esconde a si mesmo.
E nenhum homem é mais sábio do que ele próprio.
Logo, a tua aprendizagem deve começar no meio
Das vidas das outras pessoas. Transforma na tua primeira escola
O teu local de trabalho, a tua casa,
O lugar a que pertences,
A loja, a rua, o comboio.
Observa todos quantos o teu olhar alcance.
Observa os desconhecidos como se te fossem familiares
E aqueles que conheces como se te fossem estranhos.

(...)

Para observares deves aprender a comparar.
Para poderes comparar
Deves já ter observado.
Da observação nasce o conhecimento.
Mas é necessário conhecimento para observar.
Aquele que não sabe
O que fazer da sua observação
Observará erradamente.
O cultivador olhará para a macieira
Com um olhar mais apurado do que o transeunte errante.
Mas só quem sabe qual é o destino do homem
Pode com exactidão ver o homem.

(...)

Observa tudo isto atentamente.
Depois, a partir de todos os trabalhos suportados
Cria, então, no centro do teu espírito imagens
Desabrochando e crescendo como movimentos na história.



(tradução inédita de Ricardo Castro Ferreira a partir de uma versão inglesa reproduzida aqui e aqui; existe uma versão portuguesa integral do poema de Brecht, da autoria de Paulo Quintela, em Bertolt Brecht, Poemas, organização e prefácio de António Souza Ribeiro, Asa, Porto, 2007, pp. 281-285; é desta versão portuguesa que se retira o título desta nova tradução).

4 comentários:

CCF disse...

Palavras tão sábias estas, e para mim chegam na altura certa, na altura em que preciso mais delas.
~CC~

Lp disse...

Um Brecht actual, portanto (pelo menos para alguns); o que faz muito sentido...

Gregório Salvaterra disse...

Bela tradução para um belo e sábio poema.
Abraço poético
JjS

SMK disse...

Trapézio, os excertos são bonitos, mas não são de Brecht. Seria melhor pesquisar melhor. Belo blog, belo esforço!

Grande abraço.