quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Natan Zach

Contra a decisão de partir



O meu alfaiate é contra a decisão de partir.
É por isso, disse
ele, que não se vai embora;
não quer separar-se
da sua única filha. É definitivamente
contra a ideia de partir.

Uma vez partiu - afastou-se da mulher
e depois disso
nunca mais a viu (Auschwitz).
Partiu - afastou-se
das suas três irmãs e
nunca mais tomou
conta delas (Buchenwald).
Partiu uma outra vez - e afastou-se da mãe (o pai
morreu de velho). Agora
é contra a decisão de partir.

Ele era o companheiro
mais chegado do meu pai em Berlim.
Viveram
bons tempos
nessa Berlim. O tempo passou. Agora
nunca mais se vai embora. É
o mais definitivamente possível
(o meu pai morreu entretanto)
contra a ideia de partir.



(Versão minha a partir da tradução inglesa de Peter Everwine e Shulamit Yasny-Starkman reproduzida em The poetry of survival - post-war poets of central and eastern europe, organização de Daniel Weissbort, Peguin Books, 2ª edição, Londres, 1993, pp. 295-296).

1 comentário:

Carol Timm disse...

Lp,

Há muito tempo não lia algo tão definitivamente lindo e verdadeiro.

Quem realmente parte enquanto viver em nós? E quem pode partir sem nossa permissão? (nunca permitimos aliás que os amados nos deixem) Não há quem parta assim tão prematuramente que não nos leve e nos deixe um pedaço.

Escrevi sobre esse poema, mas hoje é dia de celebrar, então o divulfgarei um outro dia.

Bjs,
Carol

PS: Claro, já levei o Natan Zach e seu lindo poema. Para sempre. Também sou "contra a decisão de parir".