Cobra
Sob a erva segada e seca
rastejava uma cobra.
À sua volta o prado vazio
(apenas uma flor).
Sobre ela duas, três nuvens,
o voo de um pássaro,
o sol que brilha.
Na curva da estrada, à distância,
alguém canta.
A melodia solitária emaranha-se
na erva.
Ela põe-se à escuta, atenta, a cabeça erguida
em pleno ar.
O sol brilha.
Este é o sítio onde mataram a sua mãe
com a lâmina de uma gadanha.
Ela terá a mesma sorte
quando rastejar para fora do matagal.
A sua roupagem apodrecerá
com os seus bordados
e a incandescência do orvalho.
Mesmo na eternidade
nunca mais esta cobra se aquecerá assim ao sol,
nem estes pássaros voarão assim,
nem esta flor germinará assim.
E o sol brilha.
(Versão minha a partir da tradução inglesa de Charles Simic, incluída em The horse has six legs - An anthology of serbian poetry; organização e introdução do tradutor; Graywolf Press, Saint Paul, 1992, p. 43).
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