Cavalos azuis, de Franz Marc
Passo para dentro do quadro dos quatro cavalos azuis.
Não chego a espantar-me por conseguir fazê-lo.
Um dos cavalos avança na minha direção.
O seu nariz azul fareja-me levemente. Ponho o meu braço
em volta da sua crina azul, não para o prender, apenas para nos ligarmos.
Ele permite-me esse prazer.
Franz Marc morreu jovem, o cérebro rebentado pela metralha.
Eu havia de preferir morrer a ter de explicar o que é a guerra aos cavalos azuis.
Eles tombariam desfalecidos, tomados pelo horror, ou simplesmente não acreditariam nas minhas palavras.
Não sei como posso agradecer-lhe, Franz Marc.
Talvez o nosso mundo possa tornar-se um dia mais bondoso.
Talvez o desejo de criar algo de maravilhoso seja a semente de Deus que existe em cada um de nós.
Agora os quatro cavalos aproximam-se ainda mais, inclinam as cabeças sobre mim como se tivessem segredos a revelar.
Não espero que me falem, e eles não o fazem.
Se serem belos como são não é suficiente, o que poderiam eles dizer?
(versão minha; original reproduzido em Devotions, Peguin Press, Nova Iorque, 2017, p.21).
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