sábado, 15 de junho de 2019

Enrique García-Maíquez

Versão



Estas linhas traduzem um poema
de autor desconhecido.
Uma música antiga, ouvida um dia
no carro, a caminho do trabalho,
ou a conversa em que falavam
de noivos umas raparigas tão jovens
que espiei sem querer, transido de nostalgia.
Ou talvez traduzam o sorriso
que salva uma manhã, ou as vozes
que nos ferem nos sonhos, ou uma paisagem,
ou uma história esquecida... É um poema
incerto de autor desconhecido este que estas linhas
traduzem desajeitadamente com recurso
a um dicionário obscuro.
A sua língua original foi a do fogo
e nunca ninguém alcançou uma versão exacta.



(Versão minha; original reproduzido em Con el tiempo; Renacimiento, Sevilha, 2010, p. 41).

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