Em trajes de junho
a vida mostrava-se quase dócil
entre toalhas verdes e amarelas,
a licra luminosa partilhando
fronteiras com a pele. O odor a mar sereno
e a preguiça cúmplice
de ondas e banhistas, um convite para nos afundarmos
nessas lantejoulas brilhantes da água
ou nas selvas pintadas nos fatos de banho,
para desfazermos o véu finíssimo do sal
duns ombros próximos
e adiarmos a noite e a sua aventura.
Parecia a vida um puro litoral
mas uma sombra avançou:
ao apagar com saliva o sal da manhã
pude ver a inscrição junto à omoplata:
FRUTA PERECÍVEL. Consumir
de preferência agora. O produto altera-se facilmente,
antes dos desejos. Não se admitem
reclamações.
(Versão minha; poema incluído em Fugitivos. Antología de la poesía española contemporánea, seleção e prólogo de Jesús Aguado, Fondo de Cultura Económica, Madrid, 2016, p. 72.)
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