quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Blas de Otero

 Notícias de todo o mundo



Aos quarenta e sete anos da minha idade
dá medo dizê-lo, sou só um poeta espanhol
(dão medo os anos, isto de poeta, e Espanha)
de meados do século XX. E é tudo.
Dinheiro? Carinho é o que desejo,
diz a copla. Aplausos? Sim, mas não o ensejo.
Saúde? A suficiente. Reputação?
Má. Mas cabelo sem moderação.
Dá medo pensá-lo, no entanto apenas me lêem
os analfabetos, não os trabalhadores, ou
as crianças.
Mas já me leram. Agora ando a aprender
a escrever, mudei de classe,
precisava de uma máquina de fazer versos,
perdão, de uns versos para a máquina
e, sobretudo, paz,
preciso de paz para continuar a lutar
contra o medo,
para brindar no meio da praça
e abrir o porvir de par em par,
para plantar uma árvore
no meio do mundo,
para dizer "bom dia" sem enganar ninguém,
"bom dia, carteiro", e que me entregue uma carta
em branco, de onde voe uma pomba.



(Versão minha. Original algures na rede).

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