O vinho
Homero era cego e bebia o que lhe ofereciam:
Vinho simples diluído com água,
As musas amaram-no firmemente
Pela sua moderação.
Sócrates era mais sábio que todos os outros,
Só sabia que nada sabia.
Bebia aos poucos, nunca ficava bêbado,
Só bebeu até ao fundo a sua cicuta.
Omar Khayyam era um bêbado famoso.
Mas só nos versos, não na realidade.
Pelo que Alá concedeu-lhe uma coroa digna
E encheu os seus dias de alegria.
Logo chegaram outros tempos:
Apareceu o álcool, serpente de olhos verdes,
Rimbaud e Verlaine beberam como loucos,
Baudelaire não parava e delirava com demónios.
A Europa sacudia a nossa barca,
E até a Rússia começou a beber.
Como um inimigo, Yesenin aniquilava a vodka,
O rei do vinho arrastou Blok.
E do nosso século o melhor é não falar.
Todos bebem até à morte,
Como se fosse a derradeira batalha.
Pelos vistos ninguém teme o Juízo Final,
Mas este já não está longe...
[2007]
(Versão minha a partir da tradução castelhana de Alexandra Cheveleva Dergacheva e Iván Martín Cerezo incluída na Antología de la poesía moderna en Kazajstán, Visor, 2019, p. 127).
Sem comentários:
Enviar um comentário