sexta-feira, 12 de junho de 2009

Roxana Popelka

Acerca da verdade, acerca da felicidade



Agora que
não estou contigo,
que não estarei
contigo nunca
mais,
é bom que
te diga várias coisas:

enganei-te
um montão de vezes
com alguns homens
muito mais jovens
do que tu
porque sabia que
isso era o que mais
te doía
e voltaria a fazê-lo
acredita
- asseguro-to -

que foram
os momentos
mais felizes da
minha vida.

Quando esses homens
me abriam a
porta e me
faziam entrar
nas suas casas.
E nos despíamos
com impaciência.

Então tirava
a camisola preta,
aquela, sim!
e o sutiã.

Alguns diziam-me:
"espera, fica um
instante com as cuecas
vestidas."

E beijávamo-nos
com paixão,
era autêntica a
paixão.

Lá fora
no pátio da
casa
ouvia-se uma mulher
a mexer os ovos perto do
televisor.

E voltávamos a beijar-nos
com ardor
esmagando
o que restava
dos nossos corpos
Alguns corpos
ossudos, outros
debilitados,
ou barbeados
tanto se me dava.

E entretanto
eu pensava tanto em como te
sentirias se tivesses
sabido
tudo isto.

Mas sempre
tive bons
álibis,
ainda te lembras?

Nunca suspeitaste
que tudo
aquilo era
mentira,
que o que fazia
verdadeiramente
era enganar-te com
homens muito
mais jovens
do que tu.

E essa
- asseguro-te -
foi a época
mais feliz da
minha vida.





(versão minha; original reproduzido em 23 Pandoras - Poesía alternativa española, selecção e prólogo de Vicente Muñoz Álvarez, Ediciones Baile del Sol, 2ª edição, Tenerife, 2009, pp. 210-213).

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