domingo, 20 de setembro de 2009

Margaret Atwood

Eles jantam fora



Nos restaurantes discutimos
qual de nós pagará o teu funeral

ainda que a verdadeira pergunta seja
se farei ou não de ti um ser imortal.

Neste momento só eu
posso fazê-lo e assim

levanto o garfo mágico
sobre o prato de carne e arroz frito

e cravo-o no teu coração.
Há um pequeno estalido, um zumbido

e da tua própria cabeça fendida
emerges incandescente;

o céu abre-se
uma voz canta O Amor É Uma

Coisa Esplendorosa
circulas suspenso por cima da cidade

com um fato azul e uma capa vermelha,
os teus olhos brilhando em uníssono.

Os outros comensais olham-te
alguns com temor, outros só com aborrecimento:

não conseguem decidir se és uma nova arma
ou apenas outro anúncio.

Quanto a mim, continuo a comer;
gostava mais de ti como eras,
mas tu sempre foste ambicioso.



(versão minha, a partir do original e da tradução para espanhol de Pilar Somacarrera Íñigo, reproduzidos em Juegos de poder, tradução, introdução e notas de P. S. Íñigo, Hiperión, Madrid, 2000, p. 33).

1 comentário:

Cristina Gomes da Silva disse...

Neste caso, seria melhor jantar em casa. :)