quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Ron Padgett

O poeta como pássaro imortal



Há coisa de segundos o meu coração foi-se abaixo
e eu pensei, "Eis uma péssima altura
para se ter um ataque cardíaco e morrer, a
meio de um poema", depois senti-me confortado
pensando que nunca ninguém a quem eu tenha dado ouvidos
alguma vez morreu a meio da escrita
de um poema, tal como os pássaros nunca morrem em pleno voo.
Acho eu.



(Versão minha; original aqui).

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Terri Kirby Erickson

Milton, o meu primo



Milton, o meu primo, trabalhou numa empresa de telecomunicações.
O rapaz que eu conheci quando éramos crianças

mostrava muitas vezes os punhos cerrados, o rosto com o aspecto
de um homem velho cuja vida foi tão dura

que o endureceu. Mas as mãos do homem abriram-se para acolher
mais mundo dentro de si. Ele enviava os cartões de Natal

mais divertidos para a família e os amigos, estendendo
cabos para que outros pudessem conectar-se. Porém,

viveu sozinho, isolando-se na maior parte do tempo, de tal forma
que, quando a sua irmã encontrou o seu corpo, já ele tinha

partido há muito. Morreu novo, aos cinquenta e sete, sem
espalhafato nem incómodo. Ninguém junto ao seu leito

ou dando-lhe sopa à boca. Limitou-se a ficar estendido como
um cabo que deixa o sinal passar através dele.



(Versão minha; original aqui).