quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Ishigaki Rin

Amêijoas



A meio da noite abri os olhos.
Tinha comprado amêijoas à tarde
e num canto da cozinha ali estavam
de bocas abertas e bem vivas.

"Quando vier o dia
vou comê-las
uma a uma".

Soltei uma gargalhada
de bruxa velha.
E mais nada: dormi
de boca semiaberta
toda a noite.



(Versão minha a partir da tradução castelhana de Aurelio Asiain reproduzida em Para otras mil generaciones más... Antología poética japonesa desde el Kojiki a nuestros días; organização, prólogo e apresesntação dos autores de Fernando Cid Lucas, Amargord Ediciones, Madrid, 2013, p. 101).

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Ooka Makoto

Canção da chama



Os que me tocam
dão um grito, aterrados.
Ignoro, no entanto,
se sou quente ou fria,
pois não estou um segundo em nenhum sítio,
nem é nada o que fui há um instante.
O meu modo de partir é o incêndio.
Luto contra o escuro,
mas não chego a lado nenhum:
só regresso ao obscuro.

Temem-me sempre porque,
por alguma razão desconhecida,
procuro o papel, a madeira e a carne,
roço-me por eles, acaricio-os, vou comendo-os
e eu mesma
pereço nas suas cinzas.
Sim, sou desprendida até à medula.
Os que me tocam dão um grito:
sei que para os homens
o meu amor é um escândalo.



(Versão minha a partir da tradução castelhana de Aurelio Asiain reproduzida em Para otras mil generaciones más... Antología poética japonesa desde el Kojiki a nuestros días; organização, prólogo e apresentação dos autores de Fernando Cid Lucas; Amargord Ediciones, Madrid, 2013, pp. 109-110).

sábado, 4 de outubro de 2014

Joaquín Morales

Boas maneiras



Não fales com a boca cheia
de palavras.



(Versão minha; original incluído em La poesía del siglo XX en Paraguay; organização de Mar Langa; Visor, Madrid, 2014, p. 583).