quinta-feira, 29 de março de 2012

Eeva-Liisa Manner

Nada



"Não se pode viver sem amar"
"Pode-se, sim", disse
e vesti-me de negro
para o último baile de máscaras.

E tinha a boca cheia de pó
como se tivesse secado de tanto chorar
(ainda que não tenha chorado em cinquenta anos).

Não quero o vosso céu, companheiros,
as falsas promessas, os amigos fingidos,
as ruas cheias de beijos,
as mentiras de espelhos fugidios.
Quero rasgar o último selo,
a lua que não dá luz,
a noite em que não brilha nada.



(Versão minha a partir da tradução castelhana de Francisco J. Uriz reproduzida em Poesía nórdica, Ediciones de la Torre, 2ª edição, Madrid, 1999, p. 93).

segunda-feira, 26 de março de 2012

Ricardo Castro Ferreira

Vanitas (a lição de Marlene Dumas)



(Óleo sobre papel; 2012).

quarta-feira, 21 de março de 2012

terça-feira, 20 de março de 2012

Ricardo Castro Ferreira

Something for the weekend


(Óleo sobre papel; 2012)

domingo, 18 de março de 2012

Ana Pérez Cañamares

Meu filho



Que sou livre, dizem-me.
Porém se quisesse ter outro filho
teria de o levar ao banco da esquina
porque sua é a minha casa.
O meu menino chamaria pai ao gerente
e mãe à caixa
aprenderia a andar com uma cadeira
de rodinhas de escritório
dormiria numa gaveta dos arquivos
e eu seria apenas um parente afastado
que lhe sorriria do meu lugar na fila.
Passaria por lá de vez em quando com a desculpa de aumentar a hipoteca
só para ver como o criam
como o ar condicionado o afecta
se sabe enviar um fax
e se o gerente lhe oferece um jogo de frigideiras
pelo seu aniversário.



(vesão minha; original reproduzido em La manera de recogerse el pelo - Generación blogger, selecção de David González; prólogo de José Ángel Barrueco, Bartleby, Madrid, 2010, p. 195).

quinta-feira, 15 de março de 2012

Cristina Morano

Vergonha



O número de filhos da puta
aumenta cada dia, mas pior
é o número ainda maior dos tontos.
Eu conto-me entre os segundos,
às vezes o meu pai pergunta-me
se vou fazer alguma coisa a respeito disso;
não costumo, porém, responder-lhe,
limito-me a olhar a tv
sentada em frente da sua cara.
Deveria dizer-lhe que tem razão,
que as pessoas me dirigem o olhar
como se a uma espécie rara de animal,
como se se sentissem confortáveis
no papel do delator.
Gostaria de fazer alguma coisa para mudar,
ser mais inteligente, fumar com elegância...
esse tipo de coisas que te tornam respeitável.
Mas, no fundo, nunca seria suficiente,
os pratos continuam a cair-me das mãos.



(Versão minha; original reproduzido em La manera de recogerse el pelo - Generación blogger, selecção de David González; prólogo de José Ángel Barrueco, Bartleby, Madrid, 2010, p. 213).

terça-feira, 13 de março de 2012

Ricardo Castro Ferreira

Convite para uma decapitação


















(Óleo sobre papel; 2012)

segunda-feira, 12 de março de 2012

Maris Salejs

[aqui estamos...]



aqui estamos

a morte não nos cobriu
completamente

por isso aqui estamos



(Versão minha a partir da tradução inglesa de Ieva Lesinska reproduzida em Six latvian poets, organização da tradutora, introdução de Juris Kronbergs, Arc, Todmorden, 2011, p. 133).

sábado, 10 de março de 2012

Anna Auzina

[Agora eu tenho...]



Agora eu tenho um cãozinho
chama-se Desassossego, é de uma raça amarga (mais tarde hei-de mostrar uma fotografia)
Vai comigo para o trabalho, dobrado debaixo do meu braço
segue-me tristemente até ao infantário e à noite quer sair.
Ficar por aqui ao pé da porta não serve, tem de ser para a chuva e para o vento.
Eu sei que vocês se preocupam, mas andamos só por ruas bem iluminadas
e apenas até ele ficar verdadeiramente exausto, é o melhor para todos
Assim não uiva junto à porta do quarto que lhe fechas cuidadosamente no focinho.



(Versão minha  partir da tradução inglesa de Ieva Lesinska reproduzida em Six latvian poets, selecção e organização de Juris Kronberg, Arc, Todmorden, 2011, p. 43).

quinta-feira, 8 de março de 2012

Ricardo Castro Ferreira

Um pouco da morte























(Óleo sobre papel; 2012).

terça-feira, 6 de março de 2012

Maris Salejs

[vês o que resta...]



vês o que resta dos predadores?
ossos

vês o que resta da vida?
o sol

quando tudo acaba sempre
então ainda este sol

não sei porquê
mas é



(Versão minha a partir da tradução inglesa de Ieva Lesinska reproduzida em Six latvian poets, selecção e organização da tradutora; introdução de Juris Kronberg, Arc, Todmorden, 2011, p. 133).

domingo, 4 de março de 2012

Anna Auzina

Pequeno-almoço nas nuvens



às vezes é tão bom
até podíamos ter mais filhos
cães gatos hamsters
peixes tropicais bisavós passadas da cabeça
duas ou três tendas
esquis um computador
vários monitores
basta carregar tudo isso e seguir

um pequeno-almoço na erva
melhor ainda nas nuvens
é preciso comprar equipamento de piquenique

e bons ganchos
para que a corda nos possa içar
de modo seguro até ao céu
nas nuvens grelharemos salsichas
como fazemos habitualmente
e depois fotografar-me-ás
nua no céu

quando já estiverem todos a dormir nas nuvens
filhos
cães gatos hamsters
peixes tropicais bisavós malucas de todo



(Versão minha a partir da tradução inglesa de Ieva Lesinska reproduzida em Six latvian poets, organização e tradução de Ieva Lesinska, introdução de Juris Kronbergs, Arc, Todmorden, 2011, p. 35).

sexta-feira, 2 de março de 2012

Ricardo Castro Ferreira

Perto do coração selvagem





















(Óleo sobre papel, 33x24; 2012).