segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Erica Jong

Parábola da cama com dossel



Porque quer tocá-lo,
ela distancia-se.
Porque quer falar-lhe,
ela fica em silêncio.
Porque quer beijá-lo,
ela afasta-se
& beija um homem que não quer beijar.


Ele observa
pensando que ela não o quer.
Ele escuta
ouvindo o silêncio dela.
Ele afasta-se
pensando que ela é distante
& beija uma rapariga que não quer beijar.

Cada um casa com o seu -
um erro com quatro vias.
Ele vai para a cama com a sua mulher
pensando nela.
Ela vai para a cama com o seu marido
pensando nele.
- & tudo isto numa verdadeira cama com dossel, à maneira antiga.

Viveram infelizes para sempre?
Claro.
Alguma vez reparam os seus erros?
Nunca.
Quem é a vítima?
O amor é a vítima.
Quem é o vilão?
O amor que nunca morre.


(Versão minha; original reproduzido em Good poems, seleccão e introdução de Garrison Keillor, Peguin Books, Nova Iorque, 2002, pp. 347-348).

1 comentário:

Henrique de Lemos disse...

Brilhante poema! Parabéns ao autor pelo blogue, revela uma dedicação ao ofício poético deveras meritória. Um bem-haja