domingo, 23 de setembro de 2012

Salih Boat

O meu quinhão



toda a gente anda ocupada com alguma coisa
a avó a fiar lã
com as suas mãos secas e enrugadas como pepinos
deixados no campo
depois das sementes lhes terem sido extaídas,
está ocupada com alguma coisa;
o negociante que compra e vende terras
e o estudante que é avaliado
nas matérias que não lhe foram ensinadas
estão ocupados com alguma coisa;
o caixa do banco que se questiona sobre a relação
entre as suas mãos e o dinheiro que conta sem parar
e o adminsitrador que ontem casou a filha mais velha,
o piloto que se prepara para um novo voo
com a sua mala que já viu tantos países,
o bombeiro que passou um dia descansado
com as suas memórias de incêndios,
o trabalhador que acorda para fazer o turno da noite
e a sua raiva adormecida,
a galinha na capoeira anda ocupada com alguma coisa
preparando-se para os pintaínhos que parecem algodão-doce,

e o que sobrou para mim foi escrever poesia.



(Versão minha a partir da tradução inglesa de Yusuf Eradam reproduzida em This same sky; selecção de Naomi Shihab Nye, Aladdin Paperbacks, Nova Iorque, 1996, p. 180).

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