quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Antón García

O nada e tu

(Pavese no Hotel Roma,
26 de agosto de 1950)

A Pablo Antón Marín Estrada
 
 
Quando por ti vier a morte
chegará pela tua mão, cega
virá, conduzindo os seus passos
uma dor antiga e ténue.
Será como vestir em festa
um traje novo de domingo
que jamais poderás tirar.
Verás um rosto ao espelho,
a sombra obscura da morte,
e não saberás quem é.
Anuncia-te um tempo de derrota.
Para que perguntas, não chames,
que ninguém haverá que te responda.
Sairás de manhã tão cedo
que não escutarás a voz da alba
que grita, que te chama e suplica,
que chora por ti e te quer para si.
 
Nada haverá entre o nada e tu.
 
 
 
(Versão minha a partir do original asturiano e da tradução castelhana do próprio autor reproduzidas em La mirada aliella / La mirada atenta - Antología 1983-2006; edição bilingue; introdução de Araceli Iravedra; Ediciones Trea, Gijón, 2011, pp. 104-105).


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