segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Antonio Martínez Sarrión

Páram


Tudo passa. Saudades, gargalhadas,
calafrios, dores de dentes,
um ou outro duelo, ficar
pendurado no carro numa ribanceira
até que chegue a salvar-te a grua,
que te embarguem, que cases um filho,
que certa manhã não sintas o corpo,
e não engravides e flutues.
Que não te devolvam
aquele livro emprestado, tão único.
Que te chegue a gripe
não uma vez, mas cinco em todo um inverno.
Acontece tudo e resulta igual. E por cada
percalço que passas, um gozo se anuncia,
ou um esquecimento, ainda que tarde o seu.
Acontece de tudo,
um dia ao acaso, com sol ou nublado
e, o que é mais sacana,
à hora intempestiva
- não nasceste para arrogante -, tens que marchar.



(versão minha; original reproduzido in Metalinguísticos y sentimentales - Antologia de la poesía española (1966-2000), introdução, notas e selecção de poemas de Marta Sanz Pastor, Biblioteca Nueva, Madrid, 2007, pp. 106-107).

1 comentário:

bruno vilar disse...

Verdade, já Heraclito o dizia :

panta rhei (tudo flui).