segunda-feira, 20 de abril de 2009

Naomi Shihab Nye

Ombros



Um homem atravessa a rua à chuva,
caminhando suavemente, olhando duas vezes para norte
e para sul:
porque o seu filho dorme no seu ombro.

Nenhum carro deve salpicá-lo.
Nenhum carro pode aproximar-se demasiado da sua sombra.

Esta homem carrega a carga mais sensível do mundo
mas não há nenhuma marca disso.
Em nenhum lugar do seu blusão se diz FRÁGIL,
TRANSPORTAR COM CUIDADO.

O seu ouvido fica cheio com a respiração.
Ele ouve o murmúrio dos sonhos de um rapaz
bem dentro de si.

Não estaremos preparados
para viver neste mundo
se não tivermos o desejo de fazer a outro
o que este homem está a fazer.

A estrada será apenas imensa.
E a chuva não cessará nunca de cair.




(versão minha; original reproduzido em Tender spot - selected poems, Bloodaxe, Northumberland, 2008, p. 64).

1 comentário:

Cristina Gomes da Silva disse...

Filhos, essa preciosa carga.

Belas escolhas, as tuas.