segunda-feira, 19 de abril de 2010

Katherine Hearst

Em boa companhia



E qual é o problema se tenho
o cabelo encaracolado
e as ancas largas?
Talvez não tenha os
dedos longos e elegantes que às vezes
gostaria de ter.
Posso colher margaridas na mesma.

Confesso -
não sou capaz de dizer o ano
em que Napoleão combateu em Waterloo
ou o número atómico do urânio.

É verdade que quando canto
me esqueço das palavras -
o meu chuveiro ainda não correu comigo.

Insuficiências
não me faltam.
Muitas coisas que não sou capaz de fazer,
muitas coisas que não faço
suficientemente bem.

Por outro lado, danço no ritmo certo.
Tenho o último parágrafo de O Grande Gatsby
guardado na memória
e faço um batido de fruta dos diabos.

Por cada parte minha que é insatisfatória
há uma parte
inteiramente satisfatória -
talvez até encantadora
ou, nos meus melhores dias,
maravilhosa.

Eu sou a minha única e fiável companhia nesta vida,
os amigos são arrastados pela corrente, a família desaparece e
os amantes vão para onde vão os amantes por muito
que queiramos que eles fiquem.

Tudo bem.
Eu gosto de mim.

E sou uma companhia muito boa.



(Versão minha; original reproduzido em Best modern voices: words for the millenium, vol. 1, Wordclay, 2010, pp. 70-71).

3 comentários:

Cristina Gomes da Silva disse...

Nem mais! :-)

fallorca disse...

Interessante, e assim se divulga gente que não nos passaria pela cabeça. Venha o/a próximos :)

josé luís disse...

sabes katherine, anda por aí um maquinista desempregado que...

(gostei muito deste blog)