segunda-feira, 9 de maio de 2011

Mark Strand

Fui um explorador polar



Na minha juventude fui um explorador polar
e passei noites e dias incontáveis gelando
de lugar vazio em lugar vazio. Por fim,
deixei de viajar e fiquei em casa,
aí cresceu em mim um repentino excesso de desejo,
como se me tivesse atravessado um resplandecente
feixe de luz daqueles que se vêem no interior de um diamante.
Enchi páginas e páginas com as visões que havia testemunhado -
os rugidos do gelo no mar, glaciares gigantes, o branco dos icebergues
chicoteado pelo vento. Então, sem nada mais para dizer, parei
e dirigi a minha atenção para o que me estava próximo. Quase ao mesmo
[tempo,
um homem de casaco negro e chapéu de aba larga
apareceu entre as árvores em frente à minha casa.
A forma como olhou a direito e ficou quieto,
sem se mover minimamente, os braços estendidos
ao longo do corpo, fizeram-me pensar que o conhecia.
Mas quando levantei a mão para o cumprimentar,
ele deu um passo atrás, voltou-se, e começou a desaparecer
como uma ânsia desaparece até que nada sobre dela.



(Versão minha a partir do original e da tradução castelhana de Dámaso López Garcia, reproduzidos em Hombre y camello - poemas, Visor Libros, Madrid, 2010, pp. 26-27)

1 comentário:

RETALHOS disse...

Parabéns, A Solidariedade, para mim como leitor e aprendiz de poeta, está expressa na criação deste Blogger, chamado "Do Trapézio Sem Rede", pois uma dedicação tão sóbria e amorosa às línguas e à poesia merece reverência e agradecimentos. Os humildes, pobres e deserdados precisam de um respeito igual à satisfação de sua plenitude material e espiritual, porém, isto não se dará apenas com Blogger's de poesia, ainda que tão necessários quanto "Do Trapézio Sem Rede". Felicidades ao criador e aos colaboradores "Do Trapézio Sem Rede".