quarta-feira, 14 de abril de 2021

Rómulo Bustos Aguirre

 Nevermore



- Toc,toc, toc...
- Quem é?
- Orfeu
- O que desejas?
- Que me devolvam Eurídice
- O que ofereces em troca?
- Cantarei de modo que as pedras me sigam e as gazelas suspendidas detenham o seu voo
- Esse é um truque gasto, Orfeu. Já não satisfaz os Senhores da Morte.

Orfeu, penando em redor das portas do Hades, esgota todos os oferecimentos. Finalmente os deuses, num gesto entediado, transformam-no num corvo. 
É esse corvo que adeja incessante no poema de Poe.



(Versão minha; poema integrado no livro Casa en el aire; Pre-Textos, Valência, 2017, p. 59).

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