terça-feira, 5 de julho de 2022

Nissim Ezekiel

 Uma palavra para o vento



Não cheguei a encontrar uma palavra para o vento.
Uma outra palavra, uma frase que estivesse cheia dele
Como uma vela, versos
Que se deslocassem com a ligeireza do vento
Sobre a erva ou por entre as árvores,
Que sussurrassem descendo pela folhagem da significação,
Um som que evocasse o sentido, esse, súbito,
Pesado e baço, do fruto
E dos longos silêncios
À superfície do vento, e debaixo dele.
Não cheguei a encontrar uma palavra para o vento;
Cego como Homero, meditando sobre o mar cor de vinho,
Penso sobre o vento, escavando
As nascentes de numerosos cantos que existem em mim e não viram o dia,
Revelando num lampejo a chama constante,
Um incêndio no coração do vento.
Não cheguei a encontrar uma palavra para o vento.



(Versão minha. Fonte: Un feu ao coeur du vent. Trésor de la poésie indienne - Des Vedas au XXIe siècle; organização de Zéno Bianu, Gallimard, 2020, p. 170).

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