sexta-feira, 14 de maio de 2010

Federico Gallego Ripoll

Final



A vida é a oferta que agradeço
hoje. Toda a vida é hoje. Os teus olhos
e os meus olhos. O ponto em que se deram
é hoje. E até onde chegam e de onde
regressam, é hoje.

Toda a vida é hoje, e parece-me
suficiente o ter vivido tanto
se neste hoje de hoje cabe o teu lúcido
olhar sobre mim, e o futuro é
um hoje perpetuamente teu.

Concede-me agora
a felicidade de morrer, hoje que não tenho
nem passado nem medo.



(Versão minha; original reproduzido em Por vivir aquí - Antologia de poetas catalanes en castellano (1980-2003), organização de Manuel Rico, prólogo de Manuel Vásquez Montálban, Madrid, 2003, p. 48).

3 comentários:

CCF disse...

Há instantes assim, onde tudo parece acabar e ao mesmo tempo começar. Bonito poema.
~CC~

Lp disse...

Demasiado raros, talvez...

{anita} disse...

Experimentei um sentimento assim no momento em que o meu filho nasceu...
mas uma hora depois já o passado e o futuro tinham um peso imenso e eu já não era minha, já não era livre de morrer.